Desde quando assisti pela primeira vez o vídeo Holding Up Half The Sky – Women in Aikido, fiquei interessada em conhecer a sensei Yoko Okamoto, intrutora-chefe do Aikido Kyoto. Ela começou a treinar no Hombu dojo mas viveu por muitos anos nos Estados Unidos e foi aluna, entre outros, de Shibata sensei e Christian Tissier sensei. Em 2003, retornou ao Japão e montou seu dojo em Kyoto que, claro, entrou imediatamente na minha lista de cidades a conhecer. Durante a minha viagem ao Japão em setembro/outubro deste ano, seu dojo foi um dos três onde pude praticar.

No Brasil, nós não temos a tradição de ter muitas mulheres de graduação elevada então eu queria muito treinar com alguém de nível técnico como o dela, e a oportunidade surgiu durante um jantar com Yamada sensei. Quando comentamos que pretendíamos ir, eu e algumas pessoas do grupo, àquela cidade, ele falou imediatamente que tinha uma aluna lá. Se tratava exatamente da sensei Okamoto e pude aproveitar para perguntar se poderíamos visitar seu dojo em Kyoto. Ele respondeu que sim e que pessoalmente telefonaria para ela para combinar. Já no dia seguinte, informou o dia e o horário em que deveríamos entrar em contato com a sensei. Outros dois amigos (obrigada!) aceitaram incorporar dogis (kimono, obi, hakama, chinelos...) à mala e transformar a rápida viagem de turismo em viagem turismo e treino.

Durante o nosso contato por telefone, a sensei decidiu nos encontrar em um local da cidade próximo à estação de metrô, de onde partiríamos para o dojo. Do ponto de encontro - uma estátua de samurai fazendo rei - foi onde reconheci a mulher dos vídeos. Após 32 anos de prática de aikido, a sensei Okamoto é muito forte e tem uma postura decidida e gentil ao mesmo tempo. Logo de saída foi muito amável e nos informou que a aula que ela iria ministrar naquele dia seria em um pequeno dojo (Fushimi) mas que poderíamos optar por ir até o dojo sede (Nishinji), onde haveria mais gente, espaço e mais aulas naquele dia. Eu tinha ido a Kyoto para conhecê-la, então respondemos que gostaríamos de ir com ela ao Fushimi dojo e pegamos o trem. No caminho, ela contou que esse foi o primeiro lugar onde deu aulas quando retornou ao Japão e que depois que a sede havia sido montada, a maioria dos alunos havia migrado para lá, ficando em Fushimi somente alguns poucos que ela não podia abandonar. Também nos fez várias perguntas a respeito do tempo de prática de cada um e da nossa estadia no Japão, lamentando que não pudéssemos ficar mais para treinar, pois havíamos chegado no dia anterior e no dia seguinte partiríamos para Nara.








O samurai. Imagem: Luciana Fernandes



Mesmo o dojo de Fushimi sendo pequeno (ele funciona em um espaço público, um dos quatro tatames desse tipo de Kyoto) e teoricamente com menos alunos, vários eram yudanshas e havia 21 deles treinando. Apesar de descontraída, a sensei foi muito firme e bem detalhista nas demonstrações. Além do mais, ela passava por cada aluno aplicando as técnicas e corrigindo individualmente o que fosse necessário. Ao contrário da maioria dos treinos que eu havia feito até então, no dojo da Okamoto sensei as pessoas iam se revezando nas duplas e assim foi possível treinar com praticamente todos. Foi um grande treino e ficamos pensando como seria interessante ter um seminário dela no Brasil.






Nós no Fushimi Dojo. Imagem: Yukiko




Ao final, fizemos as fotos de sempre e trocamos algumas palavras e e-mails com os outros alunos.  Durante o almoço, que durou algumas horas, conversamos muito sobre assuntos divertidos e sobre as diferenças culturais entre o Japão, o Brasil e os Estados Unidos. Lá, ela também nos contou que Yamada sensei já havia telefonado para saber se havíamos ido treinar e se sabíamos voltar para o hotel. Deve ter sido por isso que ela fez questão de nos levar até a esquina da rua onde estávamos hospedados e comentar o que seria se ela perdesse os alunos do Yamada sensei em Kyoto. Nós respondemos que não seria má ideia ficar lá mais alguns dias e ela riu, mostrando um senso de humor que, as vezes, não está ao alcance da maioria dos estrangeiros que convivem com brasileiros. Nos despedimos com o convite de voltar e ficar pelo menos uma semana treinando por lá. Com certeza, esse foi um dos grandes momentos que vivi no aikido e que quero repetir em breve.